Projectifying work: network organisation models in contemporary capitalist societies

PROWORK – Projetificação do Trabalho: modelos de organização em rede nas sociedades contemporâneas

Resumo:

As sociedades capitalistas contemporâneas têm sofrido importantes e significativas transformações nas últimas décadas, a última das quais marcada pelo rescaldo de uma crise financeira, económica e social, com diferentes consequências para os mercados de trabalho e para a organização do trabalho em vários países do mundo, e em que o presente foi atravessado por uma crise pandémica, a nível global, com evidentes impactos no trabalho, cujo alcance está ainda por avaliar. Enquanto a literatura sobre o mercado de trabalho, nomeadamente sobre a precariedade e a flexibilidade é extensa (Castel, 2009; Kalleberg, 2009), a literatura centrada nos modelos de gestão e organização do trabalho e das relações laborais é mais escassa (Lundin et al., 2015). Entre estes modelos, destaca-se o trabalho por projeto. Por trabalho por projeto entendemos uma estrutura temporária de organização do trabalho que tem impactos específicos nas relações de trabalho e nos desempenhos individuais. Em alguns sectores económicos e profissões, como a arquitetura e a investigação científica, constitui o principal modo histórico de organização do trabalho (Boutinet, 1990; Greer et al., 2019), mas noutras áreas tem sido cada vez mais adotado como um mecanismo para promover modalidades de trabalho, relações de trabalho e espaços de trabalho mais flexíveis (Eftaxiopoulos, 2020). Esta investigação pretende analisar os modos de projetificação (Kuura, 2020; Lundin et al., 2015) e a forma como estes se inserem em modalidades renovadas de organização das sociedades capitalistas contemporâneas e se disseminaram por um vasto conjunto de sectores de atividade económica e das profissões. A disseminação dos projetos como forma de organização do trabalho tem sido eficaz por diversas razões: o desenvolvimento e a implementação de modelos de organização do trabalho que associam lógicas de gestão, estilos de liderança, procedimentos e estruturas de relações de trabalho especificamente concebidos para tornar eficaz o trabalho por projeto; a disponibilidade de recursos digitais e tecnológicos, que permitem uma comunicação contínua em linha, independentemente da definição normativa do espaço e do tempo (Jensen et al., 2016); a disseminação de um discurso de projeto sobre os benefícios do trabalho flexível e da disponibilidade permanente para colaborar (Cicmil et al., 2016); o desenvolvimento de atividades profissionais especificamente de dedicadas à gestão e organização de projetos, tais como “gestores de projetos”, “proprietários de projetos” ou “criadores de projetos”, que reformulam as fronteiras profissionais pré-existentes. A projetificação é constituída através da conceção e adaptação de redes sociotécnicas (Callon, 1986) que articulam elementos materiais e simbólicos em formas modulares que facilitam a impermanência do trabalho. Por isso, a discussão da projetificação requer uma problematização integrada dos diferentes eixos sociais, técnicos e políticos que explicam as suas configurações. Concentrando-se num tipo específico de projeto – as “redes de projetos” (Lundin et al., 2015), que são, por definição, interinstitucionais – esta investigação seguirá um quadro metodológico baseado no desenvolvimento de estudos de caso sobre diferentes setores de atividade em que a lógica da projetificação se tem vindo a intensificar: empresas de consultoria e gestão, atividades de investigação e desenvolvimento realizadas em parceria entre universidades e empresas, atividades de criação artística e atividades realizadas no quadro da economia social e solidária. Através desta estratégia, pretende-se abranger os três pilares de sustentação das sociedades capitalistas contemporâneas – Estado, sector privado e terceiro sector – e as áreas de fronteira entre eles. A visão desta investigação é a de constituir um contributo inovador e social e politicamente relevante, com a construção de um quadro analítico que, com uma base empírica, permita disponibilizar, discutir e divulgar uma visão renovada dos modelos de organização e das relações de trabalho. Pretende dar um avanço significativo na análise das redes de projetos e na discussão de novas configurações inter-organizacionais, contribuindo para alargar o atual corpo de conhecimento neste domínio.

Instituições:

CIES_Iscte – Centro de Investigação e Estudos de Sociologia

CIUHCT – NOVA.ID.FCT

CRIA_Iscte – Centro em Rede de Investigação em Antropologia

Financiamento:

FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P.

Ref.ª: 2022.04212.PTDC

DOI:

10.54499/2022.04212.PTDC

PT